quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Você vai superar essa menina

Querida Pequena Paula,

Do futuro eu te digo, "isso vai mesmo passar". Pode acreditar.

A vida repetirá infinitas vezes o ciclo encantar-se/construir castelos/decepcionar-se/sofrer e ele se aplicará a absolutamente tudo: amizade, trabalho, relacionamentos (eu quase escrevi amores, mas não é bem assim).

Ao longo da sua vida você viverá graduações do sofrer. Tem um seco, tem um quase neonatal de tanto choro e posição fetal, tem o furacão. Acredite, eles passam mesmo.

Eu sei que é difícil, eu lembro suas primeiras decepções em cada um dos items citados. Você chorou muito, você teve medo, você se maltratou mais ainda por aquilo. Uma coisa é certa, hoje daí onde você está parece não haver luz, mas há. Você vai conseguir achar seu jeito de fazer amizade com a dor e de repente, sofrer menos. Aqui do futuro, a dor dura pouco, bem pouco.

O tempo ensinará você a rir daquilo que serão suas meórias e você dirá "eu achava que ía morrer". Daqui, de onde eu vejo tudo mais calmamente, você morreu sim, muitas vezes. Não tinha como não ser assim. Olha a figura de um coração. Alguns dirão que ele é particionado em cavidades e eu te direi: parece ter sido feito para ser remendado. Nunca voltarás à inocência inicial. Isso é o amadurecer.

Pode ficar triste, é um direito seu, use-o. Eu te garanto que conforme os anos passam, você terá tantas formas de sofrer que em algumas horas a luta interna será não a tristeza em si mas sim, como colocá-la numa caixinha que você já conhece para facilitar a superação.

Fica bem, não se preocupe. Daqui de longe eu te garanto que amor não é o que você imagina bem como felicidade. Nenhum dos dois tem como base excitação mas demorará muitos anos para que você descubra isso.

Pode deixar ir pessoas e coisas, faz parte do processo.

Por fim, não tente entrar em lugares que não te cabem. Não tente ser como todo mundo. A glória do seu existir chegará no dia que você descobrir que ser essa confusão toda é que te faz especial.

Fica bem.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Com o passar do tempo, o choro durará menos

Hoje eu pensei muito nas outra 38 paulas que eu fui (usei os anos para facilitar as contas mas foram muitas faces).

Toda vez que eu passo por ondas de choro (que não são poucas), eu penso nos tantos outros choros e dou uma relida naquelas dores.

Hoje, recém saída de uma das ondas, eu pensei: se eu contasse para a Paula que com o passar dos anos tudo doerá menos, ela não acreditaria. É, eu sou setembrina, São Tomé, eu jamais acreditaria em algo assim porém é  mais bela verdade.

Quando desço pro buraco do choro eu vou, pego um cantinho e fico mal, na intensidade que a situação merece, com o descontrole e a falta de dignidade que o fato requer. Choro escolhendo alface sem nenhum problema. É necessário. A grande e fantástica diferença é que no passado essas ondas eram ressacas, duravam dias, pioravam com o tempo e hoje não. Incrivelmente não.

Hoje você visita a miséria humana com um vento já te soprando ao ouvido que "já já aquilo não terá importância" , mas a gente tem que viver a tristeza e eu me jogo. Após dois dias, estar assim dá irritação, e sem estar exposta a novas váriaveis perde o sentido permanecer sentindo que o mundo acabou. Agora, no meio campo dos 39, você junta todas as frases que ja te levantaram, consolida e vai se montando.

No final desse processo que envolve música, espelho e abertura ao mundo quer te dar, aparecerá a fenix. Chega até a gente um desejo louco de mudar cabelo, casa, cor de batom e aí a energia volta a circular e o alivio nasce. É muito bom.

Na minha viagem do tempo eu diria isso a mim mesma. Acho que para qualquer uma delas, uma coisa seria verdade: a convicção de me ver tão melhor emocionalmete aos 39 já daria um super alivio e com certeza o choro iria  se findar.

Agora levanta daí, vai se arrumar até olhar ao espelho e sentir-se "bonitona e vá brilhar.

domingo, 19 de fevereiro de 2017

Mais respeito com a gordinha que fomos, por favor

Pensei nesse post hoje cedo enquanto fazia minha corrida, ainda principiante, mas já muito acima do que eu fazia ou faria tempos atrás.

Quando subi para fazer o post tocava Foo Fighters:

"it's times like these you learn to live again
it's times like these you give and give again
it's times like these you learn to love again
it's times like these time and time again"

É sobre isso o post. Sabe aquela gordinha que eu fui?Eu tenho muito respeito por ela e não suporto ver quem emagrece fazendo mal àquela pessoa que você deixou de ser, aquela sua fase porque no fundo eu acho que isso não ajuda nada o ego.

Aquela gordinha chorou muito, muito mesmo. Aquela gordinha não tinha suporte familiar para fazer uma dieta e ainda pior,o bullying acontecia em inúmeros momentos dentro de casa. E o que ela fazia?Chorava e comia.

Nada cabia, entrar numa calça jeans era um sacrifício enorme que se tornava imensamente pior quando acompanhado de pessoas que falavam "ficar emburrada não resolve". Acho muito melhor ficar emburrada do que dar na cara das pessoas ou quebrar uma loja toda mas, são apenas pontos de vista.

Quem passou por isso?A gordinha cara,a gordinha metia a viola no saco e ía chorar no banho, no quarto. Então mais respeito com ela porque ela aturou muita merda que hoje não, no seu corpo mais magro, você de hoje não vai conhecer.

As pessoas falam para mim" você não precisa mais de dieta". Óbvio que não.Eu tenho um corpo com distribuição de peso saudável e bons exames de sangue e isso é SÓ PORQUE eu nunca parei desde 2002 quando decidi abandonar o 48. Não é um milagre, não é uma coisa sem precedentes, é consequencia desses últimos anos todos me cuidando. É zelo.

A gordinha era a mais legal, era aquela que os meninos não queriam beijar para não perder a amizade. Podia até ser verdade mas o fato é, também tinham todas as magrinhas com roupas novas na cidade. Por que eles olhariam pra gordinha legal? Era normal para mim sair e ser transparente e ficar abobada ao notar que alguém me olhava. Nos meus 13 e 14 anos eu realmente tinha um corpo legal porque jogava muito volley, treinava muito e quase não comia depois que um professor de educação física disse "ela não consegue por ser gorda". Ao mesmo tempo, eu era agressiva e tinha que ser mesmo, eu vivia uma batalha enorme.

Hoje eu sigo a MideSimone no snapchat e quando ela descreve o passado dela, do não olhar-se no espelho e não ver-se "daquele tamanho" eu entendo literalmente. Me lembro de chorar durante a estadia dela no Brasil quando a comida da vó era tudo menos low carb. Doeu em mim, como se fosse comigo. Eu sei o que é estar ali.E ainda dói.

 Eu quase não tenho fotos do meu periodo 86k que foi o meu máximo. A gordinha tende a apagar-se dos momentos, ser a que tira fotos. É duro gente, não é fácil.Então mais respeito com ela. A gente teve mil motivos para não emagrecer e nenhum deles era "porque ser obesa é delicioso" eu te garanto.

Eu vejo programas de emagrecimento e choro, detestei "Pequena Miss sunshine" ou o "O Professor aloprado" porque para mim não tem graça. Quando eu vejo gente dando comida para criança não chorar eu quase morro. Não ensinar que a comida te tira de uma situação de insatisfação é a base para não criar um obeso. Açucar é bom demais mas demais vai destruir sua vida como qualquer outro vício e eu não tenho a menor dúvida sobre isso.


Por fim vamos celebrar nossos corpos menores, mais esguios, as fotos com alguém menos disforme, o fato de não ser mais ponto de refêrencia como um poste ou uma esquina mas vamos honrar a memória da gordinha que não desistiu de viver e um dia decidiu construir a pessoa de glória que você  eu somos hoje.

Beijos doces porque é domingo e merecemos.