Enfim esse meu texto não é uma resposta agressiva ao texto do amigo do Brasil; é simplesmente um complemento ao exposto por ele porém com meus sinceros e honestos comentários de quem vive fora de casa.
Os textos abaixo são ilustrações para todos os meus argumentos e se não quiser ler o que a felina tem a dizer, reflita sobre eles, espero que algo mude em seu olhar do mundo.
Assim que abrimos o livro "Teia da Vida" de Capra ...
"Todas as coisas estão ligadas
como o sangue
que une uma famlia....
Tudo o que acontece com a Terra,
acontece com os filhos e filhas da Terra.
O homem não tece a teia da vida;
ele é apenas um fio.
Tudo o que faz à teia,
ele faz a si mesmo.
TED PERRY, inspirado no Chefe Seattle"
Ao lermos "Cartas de amor do Profeta do Paulo Coelho", com base nas cartas de Khalil Gibran Khalil, esse é o texto que segue enquanto o mundo vivia a primeira guerra mundial:
Esta guerra que agora assola a Europa atinge
todas as pessoas do mundo; você e eu também
estamos lutando ali.
O homem é parte da natureza. Todo ano, os
elementos da natureza declaram guerra contra si
mesmo: o inverno luta contra as forças da
primavera, e isto é tão destruidor como as
guerras humanas. Também nós passamos por este
processo, e muitas vezes precisamos morrer por
algo que não compreendemos bem.
Aqueles que lutam por uma paz eterna, são
como os jovens poetas que não querem que a
primavera termine nunca. Um homem precisa
aprender a lutar por suas idéias e por seus
sonhos, porque isto também é parte do que Deus
colocou no planeta.
Ninguém chora quando chega o inverno, nem
dança quando a primavera começa a mostrar as
flores do campo. Existe gente que gosta mais das
noites frias do que do verão. Seria justo dizer a
estas pessoas: “você não tem coração, você está
vendo a natureza ser destruída pelo frio, e não
está chorando. A glória e a beleza do verão estão
morrendo, e você parece indiferente.”
Por isso esta eterna luta, Mary.
Entretanto, não existe o que tentam chamar
de luta pela morte. Tudo que acontece nesta terra
é uma luta pela vida.
Um texto de 1914, um texto de 1996 e qual a semelhança entre ambos? Somos todos partes de tudo direta ou indiretamente mas não temos condições de lidar com tanta culpa. Eu posso escolher não comprar coisas sabendo que marca X ou Y escraviza pessoas para produzir seus produtos porque em algum lugar da cadeia, mesmo sem saber, eu posso estar fazendo mal a alguém. Para as mentes iluminadas, isso dá insonia.
Eu vivo na Bélgica há examos 2 anos e 5 meses, de forma alguma vim para cá porque estava insatisfeita com o Brasil. Tinha um emprego que me deu oportunidades que nunca pensei ter, um salário que me propiciava fazer tudo que queria, tinha o luxo de ter duas casas contando a do namorado e tinha aquela coisa toda que só o Rio de Janeiro dá as almas.
Porque saí? Naquele momento ninguém queria me dar o que eu buscava: uma vaga técnica onde eu finalmente deixaria o inferno da carreira de gerente. Estava em um projeto em Buenos Aires, meu sálario era limpinho pra mim, viajva sempre mas era infeliz e escrava. Eu vim a Bélgica pra voltar a ser peão, usar meu cérebro que é isso que me faz feliz. Hoje que novamente estou em cargo gerencial, vi que me faltava a visão do todo mas não me arrependo. Ah, e que fique claro, para muitos Belgas com quem eu trabalhei nesses anos, deixar o Brasil é uma insanidade.
Sim a culpa é minha e sua não do Brasil ser como é, mas do mundo estar onde está.
No seu primeiro exemplo do carro Mark, eu vou ter que discordar porque tenho algumas histórias de gente que fez o revez do seu exemplo. Mas por outro lado, posso te dar o lado europeu da coisa. Eu tenho um Golf zerinho lindo parte do meu contrato. Não é porque é um carro da empresa que eu o trato de lixo, é um bem e eu zelo. Ano passado um infeliz veio voado com uma bicicleta e pegou a minha porta. Sabe o que ele fez enquanto eu apavorada tentava ajuda-lo? Disse zilhões de coisas em uma lingua de furia, montou na bicicleta e fugiu. A brincadeira me custou 730 euros que é o meu aluguel de um mês e mais 3 horas de chá de cadeira na polícia e um discurso humilhante vindo do policial. Ah! Mas é só isso? Não, não é porque a porta novinha do meu carro hoje tem um risco de chave de fora a fora que ninguém deixou bilhetinho avisando que queria pagar o dano. Então mais uma vez eu repito: no mundo inteiro, muita gente fica com a opção a).
Sobre proteger a sua família em detrimento aos outros eu acho que é universal. É a única coisa que dá um preço a você fazer aquilo que disse que nunca faria. Dentre todas as pessoas que conheci na minha vida, tirando um ou dois sociopatas, creio que todos os demais fariam algo para suas famílias em detrimento aos outros se preciso fosse. Eu nao tenho filhos, mas tenho pessoas que eu amo intensamente e se um deles fosse ameaçado de alguma forma por uma posição ocupada por mim, eu teria o preço da corrupção. A única coisa que me pesaria, é que mesmo que fosse pelo bem de algo maior, a minha consciência me incomodaria até o fechar definitivo dos olhos.
Você já conheceu um político que tentou ser honesto no mundo da corrupção? Sabe onde leva isso? Quanto custa e quais as consequencias disso? Visite meu pai, lã no sul, parte evoluída do Brasil. Pergunte a minha mãe o que foi ser esposa de um esquerdista. Eu não sei como é nos Estados Unidos mas sei o inferno que foi pra mim mas serviu para que eu não colocasse todos os políticos no mesmo saco. Há muita impotência desconhecida naqueles níveis e esses exemplos estão semi mudos. Infelizmente.
Acabo de fazer as contas...A contribuição anual que dou ao governo Belga para ajudar seus serviços sociais é hoje de 538 euros. Sabe quantas vezes dei esse valor pra qualquer fundação no Brasil? Nunca, nem um centavo. Algumas cestas de natal, dia das crianças para algumas instituições mais nada além disso. Que vergonha né? Eu poderia ter feito muito por alguém e não fiz porque não era obrigada como aqui. Sim, eu me envergonho de ser de uma classe que podia fazer algo, que tinha condições e não fiz. Mas está dentre os meus objetivos de mudança.
Sinto muito por você ter ido a praia que até imagino qual seja e ter ficado decepcionado. Senti o mesmo quando vi Paris e Veneza e se alguém me dissesse “Ah, pelo menos você pode ver e tirar algumas fotos nos pontos turísticos, né?” eu responderia no meu belo e claro português: grande merda foto em ponto turístico. A parte a isso, eu diria que sim, concordo. Há pessoas que vivem de aparencias ainda mais dependendo da área do país que você tenha vivido. Há diferenças brutais de valores, ambições de norte a sul. Eu nasci numa cidade que não ter calças de marca X e Y nos anos 90, era o cúmulo ainda mais estudando no único colégio privado da cidade. Eu fui um ET por muitos anos e sofri horrores por essa marginalização. Por outro lado, quando chegava nas cidades beira mar onde a vida é uma canga e uma rasteira, meu Pai, que libertação.
Eu poderia entrar no objeto maior de discussão sobre o comprar marcas pagar parcelado mas aí caíriamos numa bola enorme chamada a sociedade de consumo e realmente é para mim um outro mal que assola a humanidade. Deixar de ser quem você é para ser o que você tem. Agora a pergunta que me fizeram anos atrás eu faço a você : qual a parcela de culpa do marketing daquela empresa de telefone da maçã se alguém esfaqueia outro alguém para roubar o maldito telefone? Por que e de novo por que, temos que ter a droga do maldito telefone de ultima geração? Quem foi que criou essa coisa do temos que consumir? A descartabilidade das coisas tornou o tirar a vida uma coisa bem pequena e sim, você e eu estamos sendo esfaqueados e mortos ali.
Eu evolui e cheguei no seu nível ou quase lá de não ligar para o que dizem ou pensam de mim mas quando leio esse pedaço de seu texto "Por um lado, quando você recompensa uma pessoa que falhou ou está fazendo algo errado, você está dando a ela um incentivo para nunca precisar melhorar. Na verdade, você faz com que ela fique sempre contando com a boa vontade de alguém em vez de ensina-la a ser responsável." - me vem em mente exatamente um video nascido nos EUA. Estamos na mesma página ou esse discurso jamais aconteceria, concorda?
Há um texto muito interessante sobre esse vídeo que deve ser lido por todos, ou pelos que se interessam em gerar pessoas melhores (http://www.fasdapsicanalise.com.br/a-educacao-moderna-criou-adultos-que-se-comportam-como-bebes/#ixzz3xjkLxNDn)
Eu concordo com você que há muito o que mudar, já dei meu aval que o começo deve ser o respeito as leis trabalhistas para que a exploração acabe. Também não gosto de jeitinho e detesto até a expressão. Quando vejo as pessoas não pagando ônibus metro na Bélgica eu fico chateada porque eu vi uma infração e não fiz nada porque não tem nem para quem denunciar. Se eu parar um onibus e falar pro motorista que 30% das pessoas não pagou a viagem eu certamente serei linxada. É ruim, é muito ruim tudo isso, seja ai ou seja aqui e pior, as pessoas não estão interessadas.
Sabe amigo, seu texto vai ficar para a história e o meu também enquanto a internet nos permitir. Espero que nossos prognosticos ruins, o seu para o futuro do Brasil, o meu para o futuro do mundo sinceramente estejam errados. Eu queria ver as coisas melhorarem e tenho uma angústia interior enorme por não conseguir fazer nada para melhorar a vida ninguém que precisa e quer ser ajudado.
Eu torço para que você defenda meu país muitas vezes como eu faço aqui. Eu convido as pessoas para verem as misérias do meu país continental porque ao viver em aqui one se tem o mesmo número de habitantes da cidade de São Paulo as pessoas não tem noção de nada do mundo. Acho minha obrigação botá-las com os pés no chão por uns minutos.
Um dia se você e eu voltarmos quem sabe não nos encontremos para uma cerveja, eu juro chegar no horário. Detesto quem se atrasa.
Um abraço da onça e boa viagem. E como diria Khalil, 'lutemos pela vida'