segunda-feira, 27 de março de 2017

Querida Lara

Eu vou eternizar esse dia 27/03 porque foi o dia que você daí do seu mundo entrou num quartinho escuro dentro de mim, acendeu as luzes e abriu tudo que estava guardado e eu sequer imaginava.

Eu tenho episódios compulsivos que hoje 2017 me impressionam. Comecei a terapia recentemente para ter ferramentas para lidar com o turbilhão mas eu tinha muitas perguntas de "onde, por que" eu faço isso? E aí você chegou.

Confesso que até agora tenho um bolo na garganta, que ouvi seus snaps parei, fui treinar pra desanuviar e só então terminei. Que caos a minha cabeça nesse momento.

Veja, está ruim mas não é ruim, hoje ao te ouvir eu consegui ver os porques nitidamente. São lembranças difíceis de acreditar mas fazem todo o sentido agora.

Eu não passei fome, em minha casa havia muita fartura porém misturada com a miséria, uma coisa "Nono Correa" chamada "não pode".

Eu era horrível porque, assim como você, eu ía a casa das amiguinhas e queria comer, comer muito porque em minja casa tudo do gostoso era contado: um bife, um pão, um bombom. Óbvio que o arroz ,feijão, salada e frutas eram liberados mas quem quer isso sabendo que tem um freezer de refri, um dispensa cheia de leite condensado, um armário repleto de chocolates? Só louco.

Meus episódios são desencadeados pós frustração ou bebidas. Volto para a dieta com mais velocidade hoje,  porém o último demorou quase um mês para passar. Tombos e mais tombos.

Tudo bem agora eu tenho um quarto bagunçado pra limpar e as ferramentas, sei que vou conseguir. Agora é enfrentar.

Obrigada. Eu as vezes me exponho tanto quanto você e me critico quando levo uma bordoada da vida por falar demais. Hoje entendi o poder disso, que o sendo honesta sobre mim eu posso muito mais ajudar do que fazer mal exatamente como você o fez.

Sigamos. A sua estrada está mais clara, a minha eu ainda estou dando baby steps mas vencendo muito mais do que perdendo.

Obrigada, hoje daí de S. Paulo você salvou alguém que tá do outro lado do mundo e isso, e é por essas e outras que vale o existir.

Beijos da onça
Paula

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